A dieta e os impactos na saúde do ouvido, nariz e garganta

Há muito tempo, no consultório médico, venho alertando pais sobre a suspensão do leite de vaca e derivados com o objetivo de melhorar sintomas respiratórios dos seus filhos. Após ler publicações médicas recentes que levantam interessantes discussões a respeito da provável relação entre dieta e hábitos alimentares das crianças (especialmente leite e alimentos açucarados após o jantar) com certas manifestações respiratórias como secreção nasal e tosse crônica, eu passei a interrogar os pais, durante a consulta, sobre a dieta e hábitos alimentares de seus filhos.

Preocupante é a frequência com que as crianças em idade pré escolar têm receitas de medicamentos de uso diário para alergia e, mesmo assim, os pais relatam que os sintomas de seu filho não melhoram. Porém, em condições normais, crianças pequenas e em idade pré escolar são propensas a apresentarem entre 7 a 10 infecções do trato respiratório superior a cada ano, e como tal, os sintomas mais comuns incluem secreção e obstrução nasal, além de tosse.

A tosse, em particular, é um sintoma comum, um reflexo fisiológico que pode ter várias causas, como infecção aguda ou crônica das vias aéreas respiratórias, ou devido a doença inflamatória crônica dos seios da face (sinusite). Culturalmente, ainda há o mito de que se a secreção nasal for “amarelada” ou “verde”, reflete uma infecção bacteriana que requer tratamento com antibiótico. Entretanto, é importante destacar que a cor da secreção não significa necessariamente uma sinusite bacteriana.

Por outro lado, dietas que incluem o consumo exagerado de leite de vaca e derivados e também o açúcar, bem como o hábito de comer tarde da noite, podem ser considerados como causas que influenciam nos sintomas nasais (secreção e obstrução nasais )e até a própria tosse.

A criança até a idade pré-escolar tem o hábito de tomar leite ou fazer lanches na hora de dormir. Embora esta faixa etária não apresente muita regurgitação clínica (golfado), como fazia durante os primeiros anos, ela está certamente em risco para o refluxo fisiológico se houver conteúdo não digerido no estômago. Isso ativa a secreção de muco na mucosa nasal, evoluindo com obstrução nasal, roncos ao dormir e tosse crônica. Alimentos que contêm leite e açúcar também contribuem para aumentar a acidez do estômago, aumentando a probabilidade de refluxo fisiológico.

Durante a consulta médica, oriento os pais sobre alguns princípios básicos. É importante evitar dar leite na hora de dormir para crianças acima de 12 meses de idade: as crianças não devem ingerir alimentos (exceto água) nas duas horas antes de deitar. Deve-se evitar ou diminuir o consumo de laticínios e açúcar à noite: se uma criança está com fome e precisa comer de novo entre o jantar e a hora de dormir, é melhor dar preferência para alimentos como: biscoito de polvilho ou água e sal, fruta não ácida (ex.: melão), ou até mesmo pipoca (sem manteiga).

Nunca imaginei, sendo Otorrinolaringologista Pediátrica, que iria dar atenção à dieta e hábitos alimentares de meus pacientes, mas hoje vejo que é importantíssimo perguntar rotineiramente aos pais se seus filhos têm uma boa dieta e hábitos alimentares saudáveis. Isso me orienta na forma de tratá-los.

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